Olhos vermelhos são sintomas comuns nas uveítes e nos quadros de conjuntivite, uma doença de melhor prognóstico. Daí, a importância de estabelecer um diagnóstico preciso. “A uveíte é uma inflamação que se manifesta em toda a úvea ou em uma de suas partes. Do ponto de vista anatômico, a úvea é dividida em duas porções: a anterior, que engloba a íris e o corpo ciliar, e a posterior, constituída pela coroide que está intimamente ligada à retina. Por isso, os processos inflamatórios que atingem a coroide ou a retina se misturam. Muitas alterações que comprometem inicialmente a coroide passam a comprometer a retina e vice-versa”.
Conforme o local em que a inflamação se manifesta, a uveíte pode ser anterior, posterior ou intermediária e os sintomas variam muito de acordo com o local comprometido. Quando o comprometimento é só do segmento anterior, ou seja, da íris ou do corpo ciliar, os sinais da doença são diferentes daqueles em que há comprometimento da coroide, isto é, do segmento posterior. Na uveíte anterior aguda, os principais sintomas são hiperemia, fotofobia e, às vezes, dor. Na uveíte posterior, com comprometimento da coroide, mesmo a aparência do olho sendo normal, o paciente pode apresentar alterações da visão.
Além da hiperemia, a queixa oftalmológica que os pacientes mais apresentam é a alteração da visão. “Os pacientes se queixam da presença de uma mancha escura ou de turvação visual. Isso acontece, sobretudo, quando existe comprometimento da coroide e da retina, porque muitas células passam para o humor vítreo, que perde a transparência e a nuvem que se forma na frente da retina perturba a nitidez da visão”.
Diagnosticando o problema
Quando se faz o diagnóstico das uveítes, estabelecer a distinção entre uveíte anterior e posterior é fundamental para determinar as prováveis causas. O olho funciona praticamente como um gânglio e muitas manifestações que apresenta decorrem de doenças sistêmicas.
Como a úvea é constituída por tecido muito semelhante ao das articulações, existe relação entre as doenças articulares – reumatológicas – e as doenças da úvea. Já foi estabelecido também um estudo epidemiológico de prevalência que indica ser importante caracterizar o grupo etário a que pertence o paciente: jovem (de zero a vinte anos), adulto-jovem (de vinte a quarenta anos) e idoso (acima de quarenta anos). “O diagnóstico diferencial também é importante, porque existe a síndrome mascarada, com características que simulam a uveíte, mas que são manifestações de doenças sistêmicas, de metástases ou de alguns linfomas na coroide e na retina”. A causa mais frequente de uveíte posterior é a toxoplasmose, inclusive a toxoplasmose congênita. No entanto, corpo estranho e certos tipos de leucemia podem manifestar-se com uveíte e devem ser considerados durante o diagnóstico. As uveítes são mais freqüentes no adulto-jovem, entre 20 e 40 anos. Nessa faixa de idade, 60%, 70% dos pacientes com uveíte posterior unilateral, turvação da visão e olho aparentemente calmo apresentam exame positivo para toxoplasmose. Na verdade, a partir dos quinze anos, aumenta muito a prevalência de uveíte posterior causada por toxoplasmose. Já a uveíte anterior unilateral aguda em paciente idoso, na maioria das vezes, ocorre por conta de processos herpéticos, provocados pelo herpes vírus simples.
“Todos os pacientes com alguma manifestação reumática devem fazer um exame de sangue chamado FAN fatorantinúcleo, pois 70% dos que têm FAN positivo desenvolverão mais tarde um quadro de uveíte. A vantagem do diagnóstico precoce tanto da uveíte anterior quanto da posterior é poder atuar preventivamente, uma vez que o grande foco da terapêutica é preservar a anatomia do bulbo ocular e proporcionar conforto ao paciente”.
Alterações visuais
Pacientes com uveíte anterior não tratada correm o risco de apresentar uma lesão anatômica irreversível, porque fibrinas passam pela inflamação para dentro do olho, provocando uma aderência da íris ao cristalino, fazendo com que ela deixe de exercer seu papel de diafragma. “Por isso, quando o olho vermelho é sintoma de uveíte anterior, a primeira medida terapêutica é dilatar a pupila para evitar aderências e preservar a anatomia do olho”.
As uveítes sempre provocam alterações visuais. No entanto, é comum encontrar pacientes com uveíte posterior em que o diagnóstico só foi feito com base numa cicatriz mais antiga ou não chegou a ser feito. Tudo depende da área onde se localiza a inflamação. Se for na parte periférica da retina, poderá passar despercebida, o que não acontece quando a lesão ocorre na parte anterior da retina. “Geralmente, nas crianças, o quadro não é agudo, é crônico e elas não reclamam muito porque vão se acostumando com os sintomas. São os pais que notam o olho vermelho. Com os adultos é diferente, uma vez que dor, sensibilidade à luz e hiperemia são sintomas marcantes da uveíte anterior”.
Já a uveíte que acomete a parte posterior do bulbo ocular, mais freqüente nos jovens e nos adultos-jovens, desde que não atinja a área central da retina, apresenta como sintoma mais comum a turvação visual.
Para tratar
“O diagnóstico preciso das uveítes é fundamental para orientar o tratamento adequado para cada caso. Se a causa primária não for combatida, o tratamento ocular pode trazer alívio, mas não cura. Por exemplo, sífilis ocular é considerada manifestação da sífilis terciária. Portanto, não adianta pingar uma gotinha de colírio para resolver o problema dos olhos. É preciso tratar a sífilis também. As uveítes podem manifestar-se num olho ou nos dois olhos e estar associadas a doenças sistêmicas. Sobretudo nos casos de uveíte anterior, a primeira preocupação é dilatar a pupila e prescrever um anti-inflamatório local, pois o tratamento oftalmológico visa à preservação da anatomia do olho e a dar conforto aos pacientes. “No entanto, a conduta terapêutica depende do diagnóstico etiológico. Indicam-se corticoides, quando o problema ocular está associado a doenças autoimunes. Quando a causa for herpética, não se pode fazer indicar tal medicamento.Nos casos de uveíte posterior por toxoplasmose, tuberculose ou sífilis é preciso introduzir um tratamento sistêmico. “Por isso, o tratamento deve ser orientado conjuntamente, pelo oftalmologista e por um clínico, para garantir uma abordagem mais completa ao paciente”.