O
primeiro estudo a comparar as taxas de acidentes dos motoristas que têm
glaucoma avançado – doença ocular que afeta a visão periférica – com as
taxas dos motoristas com visão normal, descobriu que os portadores de
glaucoma apresentam o dobro do risco de se envolverem em acidentes de
trânsito.
O estudo –
realizado no Japão e que utilizou um simulador de condução – sugere que
todos os motoristas devem passar por um teste de campo visual para
garantir que apresentam uma visão periférica adequada, antes de obter a
concessão ou a renovação da carteira de motorista. Os resultados da
pesquisa foram apresentados durante a Reunião Anual da Academia
Americana de Oftalmologia.
É preciso
entender que o glaucoma pode restringir parcialmente ou severamente a
visão periférica de uma pessoa, sem danificar a sua visão central ou sua
acuidade visual. Isto significa que muitas pessoas que têm a doença são
capazes de passar nos testes de acuidade visual, o que não significa
que elas estão aptas a conduzir um automóvel, pois lhes falta uma boa
visão periférica. É a visão periférica que nos permite avaliar e
acompanhar o fluxo do tráfego, para que possamos nos manter na faixa
adequada, e detectar semáforos, pedestres, veículos e outros obstáculos
no meio do caminho.
Neste
estudo, realizado na Escola de Medicina da Universidade de Tohoku, em
Sendai, no Japão, dois grupos de 36 pessoas cada, foram testados usando
um simulador de condução. O primeiro grupo era composto por pacientes
com glaucoma avançado e o segundo grupo era composto por pacientes com
visão normal. Os grupos foram pareados por idade, experiência de
condução e outras características. O cenário de acidente mais testado
foi a entrada repentina de uma criança, um carro ou outro objeto no
caminho do motorista do lado. O grupo com glaucoma obteve mais do que o
dobro de colisões que o grupo com visão normal.
Uma doença que afeta a muitos
O glaucoma
é uma das principais causas de cegueira no Brasil e no mundo e um
problema de saúde pública, visto que a principal consequência dessa
moléstia é a perda irreversível da visão. Segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS), mais de 6,7 milhões de pessoas são cegas em decorrência
do glaucoma.
O glaucoma
é a segunda maior causa de cegueira na população mundial e perde
somente para a catarata, que, ao contrário do glaucoma, é causa de
cegueira reversível.
Estima-se
que 66,8 milhões de indivíduos no mundo sejam acometidos pelo glaucoma
primário de ângulo aberto (GPAA), sua forma mais prevalente, responsável
por cegueira bilateral em 10%. Nos Estados Unidos, mais de dois milhões
de pessoas são portadoras de GPAA e estima-se que até 2020, este número
aumente para três milhões. No Brasil, apesar das dificuldades em
obtenção de dados, estima-se que 500 mil brasileiros com idade acima de
40 anos apresentem glaucoma.
Quando
não tratado, o glaucoma reduz a visão periférica e, eventualmente, causa
cegueira por danificar o nervo óptico, que é o responsável pelo envio
de sinais da retina para o cérebro, onde estes sinais são interpretados
como as imagens que as pessoas enxergam. Apenas metade das pessoas que
têm glaucoma está ciente disso, pois a doença é indolor e a perda de
visão é muito gradual.
Conforme
as populações envelhecem em todo o mundo, as autoridades de trânsito
estão buscando mais medidas para garantir a segurança nas estradas. Nos
Estados Unidos, por exemplo, a exigência de testes do campo visual varia
de estado para estado, 12 das 51 jurisdições americanas já restringem
licenças de motorista para condutores com deficiência visual. Alguns
estados ou territórios exigem a instalação de espelhos adicionais nos
veículos destes motoristas.
Os
pesquisadores japoneses, autores do estudo, sugerem que para assegurar a
segurança de todos nas estradas, seria importante a criação de novas
diretrizes de visão para pacientes com glaucoma. A obrigatoriedade dos
testes de campo visual como requisito para obtenção e renovação da
carteira de motorista pode salvar muitas vidas.
Com
assistência médica adequada, pacientes com glaucoma podem manter um
nível de visão que permita uma condução segura, essencialmente nos casos
em que o glaucoma é diagnosticado cedo e o paciente não apresenta perda
significativa em seu campo visual. Isto porque quando o diagnóstico é
feito no início da doença, o oftalmologista pode tratar o glaucoma
apropriadamente, retardando sua progressão. A Academia Americana de
Oftalmologia recomenda que todos os motoristas façam um exame
oftalmológico completo, aos 40 anos, de modo que o glaucoma e outras
doenças oculares relacionadas à idade possam ser diagnosticados e
tratados precocemente para minimizar a perda de visão.
Fonte: IMO.