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segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Monet e a catarata

A Cegueira de Claude Monet

Quando um cantor perde a voz, ele se aposenta. Também o pintor que não enxerga deve abandonar a pintura, mas isso eu sou incapaz de fazer. Claude Monet.
Impressão: Nascer do Sol (1872). Claude Monet. Óleo sobre tela, 48x63cm. Marmottan Monet (Paris).
Em 1873, o impressionante artista Oscar-Claude Monet (1840-1926), com a impressionável pintura Impressão, Nascer do Sol, gestou o termo impressionismo para um movimento artístico inteiramente novo .

A técnica de Monet, - considerada mais tarde como umas das belas do mundo - mostrava-se bastante peculiar. Caracterizada pela representação da luz e movimento utilizando pinceladas soltas, as imagens formadas nas telas aparentam ser de perto apenas borrões, mas, ao distanciar a visão, o examinador passa a enxergar as formas nitidamente.

Monet não imaginava que, por conta de uma doença ocular, a “impressão” do estilo que fundou se projetaria fielmente em sua vida. Com a progressão da doença, ele passaria a ver o mundo turvado e delineado por manchas coloridas, tal como o representava em suas telas. Também ele, assim como os observadores de suas obras, precisaria alcançar de longe a limpidez que não mais estaria diante de seus olhos. O pintor conseguiria, mais tarde, se distanciar e encontrar tal nitidez — com a ajuda da memória — no fundo de sua alma.

Diante das belas paisagens venezianas, em 1908,Monet começou a notar que já não enxergava perfeitamente. Em 1912, aos 72 anos, ele procurou especialistas relatando uma enorme quantidade de problemas com sua visão. Queixava-se predominantemente de turvação visual e dificuldade na percepção de cores. Constatada uma acuidade visual de 20/200 no melhor olho, deram-lhe o diagnóstico de catarata nuclear bilateral.

A catarata adquirida é considerada a causa mais comum de cegueira (perda visual completa) no Mundo. O tipo “nuclear” é o mais associado à perda da diferenciação de cores nas fases iniciais. À medida que o cristalino vai se opacificando, a visão vai ficando lenta e progressivamente borrada, surge também uma perda da definição das letras e objetos. Com o tempo, o aumento da opalescência do cristalino vai agravando o borramento visual e então o paciente passa a ter dificuldade na visão para perto e longe. Além da alteração da visão de cores, as imagens costumam ficar “nubladas e enevoadas”.

A doença pode ter acometido Monet por conta das muitas horas em que ficou com seus olhos expostos ao sol. Sabe-se que a radiação ultravioleta é um clássico fator de risco para catarata, perdendo em importância apenas para a idade avançada. Monet pintava ao ar livre, preferencialmente ao meio dia, visto ser a representação do efeito que a luz solar produz sobre a natureza uma importante característica do impressionismo.

Como tratamento, foi-lhe recomendado cirurgia para o pior olho, mas, embora a operação fosse relativamente segura nesta época, Monet resistiu por medo de perder totalmente o pouco que lhe restava da visão (fato que ocorreu com um amigo que fora submetido a mesma cirurgia).

Durante o período em que sofreu com a doença, ele produziu alguns de seus trabalhos mais marcantes e característicos. Sua visão tornou-se progressivamente mais acastanhada em sua essência; o artista enxergava através de uma opacidade densa amarelo-marrom.

Não percebo mais as cores com a mesma intensidade nem pinto a luz com a mesma precisão. O vermelho aparece lamacento para mim; já o rosa, insípido; e os tons intermediários ou menores me escapam por completo. O que eu pinto está cada vez mais escuro, mais e mais como uma fotografia antiga.

A catarata limitava severamente sua discriminação de cores e, como forma de “sobrecompensação”, Monet passou a pintar com tonalidades mais intensas.

Water Lilies (1916). Claude Monet.
Pinturas de nenúfares e salgueiros, ao longo do período 1916-1922, exemplificam a mudança. Os tons se tornaram mais enlameados e escuros, as formas surgem bem menos distintas, sua sensibilidade de contraste está diminuída, as pinceladas são mais fortes e as cores mais intensas.

À esquerda: pintura de Monet da ponte japonesa em seu jardim em Giverny (1899); A mesma cena (meio) que ele tentou capturar novamente entre 1918-1922 mostra que as cataratas turvaram sua visão e que o amarelamento das lentes de seus olhos prejudicaram sua visão do azul e do verde, deixando-o num mundo mais "vermelho e marron". À direita: Imagem computadorizada criada por especialistas mostrando como Monet enxergaria em 1924.

Em 1920 a visão de Monet se deteriorou gravemente, ele já não era capaz de distinguir os tons e, com o intuito de continuar as produções isento de cometer erros, providenciou uma paleta em que mantinha uma ordem regular de cores. Mais adiante, o artista tornou-se capaz de enxergar apenas vultos, a partir de então, passou a pintar imagens que guardava na memória.

Frustrado com a perda da visão, em 1922 ele escreveu a Marc Elder: Para criar uma aura impressionista, confio apenas nos rótulos dos tubos de tinta e na força do hábito dos meus 50 anos de trabalho.

Mais tarde, em uma entrevista, ele disse: No fim, terei que admitir que estou arruinando minha arte, parece que já não sou capaz de produzir algo belo. Já destruí várias das minhas telas. Hoje estou praticamente cego e deveria renunciar a pintura completamente.

Em janeiro de 1923, o Dr. George Clemenceau convenceu Monet a se submeter à cirurgia. A operação foi realizada em dois estágios: uma iridectomia preliminar seguida por uma extração extracapsular da catarata.

Pós-recuperação, Monet tinha grande dificuldade para se adaptar. Ele não conseguia enxergar com ambos os olhos ao mesmo tempo e se queixou de que os objetos adquiriram uma curvatura anormal.

Sinto que se eu der um passo, vou cair no chão. Perto ou longe, tudo é deformado e dúbio. Enxergar dessa maneira é intolerável. Persistir parece perigoso para mim. Se eu estava condenado a ver a natureza como a vejo agora, preferiria continuar cego e manter as memórias das belezas que sempre enxerguei.

Monet também se queixava da marcante diferença entre a percepção de cores entre os olhos, dizendo que tudo que via com seu olho afácico adquirira uma tonalidade azul. Mais tarde, óculos com uma tonalidade verde-amarelo lhe foram prescritos, o que o levou para fora de seu desespero. Monet pintou até a sua morte, em dezembro de 1926, por doença pulmonar obstrutiva crônica e câncer de pulmão.

A concepção global de que pintores produzem suas obras traduzindo “aquilo o que enxergam” suscitou a compreensão geral de que os olhos de Monet eram não somente a janela de sua alma, mas também a porta para seu universo artístico. Presume-se que qualquer mudança significativa na visão do pintor afetaria sua interpretação e tradução artesanal do mundo. A catarata seria prejudicial aos detalhes fundamentais de seu estilo, tais como a sensibilidade requintada à luz, às cores e aos detalhes morfológicos. Podemos nos perguntar então a que se atribui a grandeza de Monet?

A excelência artística de Monet tem raiz por detrás do cristalino, na organização espetacular da sua "lente cerebral". Enquanto enfrentava um grave declínio da função ocular, o gênio escalou alturas da visão artística. A quase total cegueira de Monet, aliada aos seus esforços incansáveis para vencer a deficiência, provocou ao fim um efeito positivo sobre o seu trabalho.

A luta apaixonada de Monet por sua arte faz-me lembrar as encantadoras palavras de Victor Hugo em sua magnânima obra Os Trabalhadores do Mar:
...O consentimento da alma recusado ao desfalecimento do corpo é uma força imensa.[...] Os teimosos são os sublimes. Quem é apenas bravo tem um assomo, quem é apenas valente tem só um temperamento, quem é apenas corajoso tem só uma virtude; o obstinado na verdade tem a grandeza. Quase todo o segredo dos grandes corações está nesta palavra: - Perseverando. A perseverança está para a coragem como a roda para a alavanca; é a renovação perpétua do ponto de apoio. Esteja na terra ou no céu o alvo da vontade, a questão é ir a esse alvo. [...] Não deixar discutir a consciência, nem desarmar a vontade, é assim que se obtém o sofrimento e o triunfo. Na ordem dos fatos morais o cair não exclui o pairar. Da queda sai a ascensão. Os medíocres deixam-se perder pelo obstáculo especioso; não assim os fortes. Perecer é o talvez dos fortes, conquistar é a certeza deles. [...] A perda das forças não esgota a vontade, crer é apenas a segunda potência; a primeira é querer; as montanhas proverbiais que a fé transporta nada valem ao lado do que a vontade produz.(Victor Hugo, 1866).

REFERÊNCIAS:
1.MARMOR, MF. “Ophthalmology and Art: Simulation of Monet’sCataracts and Degas’ Retinal Disease.” ARCH OPHTHALMOL/VOL 124, DEC 2006.
2.Lanthony P. Cataract and the painting of Claude Monet. Points de Vue. 1993;29:12-25.
3.Ravin JG. Monet’s cataracts. JAMA. 1985;254:394.399.
4.Projeto Diretrizes “Catarata: Diagnóstico e Tratamento”. Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina

MAPA DE ANATOMIA: O OLHO.

Que tal um pouco de poesia em nossas vidas?
Cecilia Meireles escreveu este belo poema sobre o olho.
O Olho é uma espécio de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globobrilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas,
naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são invetadas.

O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=234 © Luso-Poemas

Mapa de anatomia: o Olho
 
O Olho é uma espécie de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globo brilhante:
parece de cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.
 
Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são inventadas.
 
O Olho é um teatro por dentro.
 
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.
 
O Olho é um teatro por dentro.
 
o achado poético provém da exuberante, da magistral: cecília meireles.
 
a poesia foi lançada no seu livro “o estudante empírico”, que reúne uma safra de textos escritos entre os anos de 1959 e 1964.
 
aqui, a poeta traça o que intitula de “mapa da anatomia”, um tipo de representação gráfica de um órgão que, segundo cecília, é uma espécie de pequeno planeta, de pequeno globo, o globo ocular: o olho. nas linhas, o status adquirido de “astro” é verificado no modo de escrevê-lo, sempre com letra maiúscula: o Olho.  
 
a partir daí, a descrição de tal estrela: o olho é uma espécie de pequeno planeta com pinturas do lado de fora. é como um aquário às avessas, um aquário onde o que é abrigado não está contido dentro, mas fora, na parte externa ao aquário — a paisagem que nos cerca, o mundo —. pinturas do lado de fora as mais variadas: azuis, verdes, amarelas, pinturas tropicais, pinturas compostas com as cores da bandeira brasileira, retratos de algas, sargaços, miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios, peixes. 
 
no entanto, esclarece a poeta: por dentro desse aquário também há pinturas, porém pinturas de outra natureza, as que não podem ser avistadas: umas são as imagens do mundo, as interpretações nossas acerca do entorno; outras são inventadas: sonhos, desejos, insanidades.
 
(a percepção de que tudo o que habita este “planeta ocular” passa, sempre & antes, por uma interpretação, por um julgamento, por uma apreciação crítica de quem vê.)
 
portanto: o olho é um teatro por dentro.
 
e como teatro, os atores, ou a falta deles, os cenários, ou a ausência destes, nas peças existenciais (onde somos os artistas principais), formam, inúmeras vezes, em inúmeros momentos, por inúmeras razões, lágrimas. coisas do teatro, desta realidade fantástica, desta realidade das fantasias que vestimos nas atuações nossas de cada dia (rs)…  
 
assim como eu, apreciem este texto (sem moderação).
 
vale a mirada.
 
Paulo Sabino.
 

O Olho é uma espécio de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globobrilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas,
naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são invetadas.

O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.

Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=234 © Luso-Poemas

Câncer de Próstata - Novembro Azul

Dados do câncer de próstata

Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que entrevistou cinco mil homens em 2013, revelou que 47% dos entrevistados nunca realizaram exames para detectar o câncer de próstata, 44% jamais se consultaram com o urologista e 51% nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino) no sangue.


Diante desses números, não é de se assustar que o câncer de próstata, hoje, seja o segundo que mais acomete homens, atrás apenas do câncer de pele não-melanoma. Para 2014, são esperados 68.800 novos casos dessa neoplasia, segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA).


Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de três quartos dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.


Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. A grande maioria, porém, cresce de forma tão lenta (leva cerca de 15 anos para atingir 1 cm³ ) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.





Dúvidas básicas:



O que é o câncer de próstata?
Câncer, também conhecido como neoplasia, é uma doença na qual ocorre um crescimento exacerbado e desordenado de algumas células. No caso do câncer de próstata, essas células são originariamente da próstata, e podem invadir os tecidos e órgãos e espalhar-se para outras partes do corpo, o que denominamos metástases.



Como se desenvolve?
Habitualmente o câncer de próstata é uma doença indolente, de crescimento lento, habitualmente acometendo homens com idade acima de 50 anos. Embora não seja conhecida sua causa, é sabido que fatores genéticos estão envolvidos, sendo que homens com parentesco de 1° grau de neoplasia de próstata apresentam risco mais elevado de desenvolver a doença.



O que o paciente sente?
Na fase inicial, os pacientes não apresentam sintomas. Grande parte dos pacientes permanecerá assintomática ou terão sintomas urinários (dificuldade para urinar e aumento da freqüência urinária), posteriormente podendo evoluir para quadro de obstrução urinária, dor no reto ou óssea, fraqueza e desânimo.



Como se faz o diagnóstico?
  O diagnóstico de certeza é feito com a biópsia da próstata. Os pacientes que apresentarem no sangue aumento do antígeno prostático específico (PSA em inglês) e/ou alteração no toque retal são candidatos à realização de ultra-sonografia transretal com biópsia da próstata para verificar a presença da doença na próstata.



Como se trata?
  O tratamento do câncer da próstata é multidisciplinar, podendo envolver cirurgia, radioterapia, uso de hormônios ou quimioterapia. A escolha do tratamento ideal é feita dependendo do estágio da doença e das características de cada paciente.



Qual é o prognóstico?
O prognóstico no câncer de próstata está relacionado com o estágio da doença ao diagnóstico, o tipo de câncer (existem alguns tipos mais agressivos que outros) e o estado geral do paciente.



Existe maneira de fazer o diagnóstico precoce do câncer de próstata?
O diagnóstico precoce do câncer de próstata é feito através do uso da medida do PSA e do exame clínico periódico, como screening da doença. Entretanto, mesmo adotando essa prática para a detecção precoce da doença não foi observado que naqueles em que a doença foi diagnosticada mais precocemente a sobrevida elevou-se. É por esta razão que instituições como o Instituto Nacional do Câncer não recomenda a utilização do screening em câncer de próstata.



Existe cura para o câncer de próstata?
  Sim, em vários casos, quando a doença é diagnosticada em fase inicial e o tratamento é adequado.



Deve-se operar ou não?
Se a neoplasia de próstata é diagnosticada em estágios iniciais, a cirurgia é uma das opções terapêuticas, assim como a radioterapia e a braquiterapia.

*A campanha teve início nos Estados Unidos, onde leva o nome de Movember – junção das palavras moustache (bigode, em inglês) e november (novembro).