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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Saúde ocular infantil reflete na sala de aula

Fonte: revista Universo Visual

Problemas visuais não detectados em alunos do ensino fundamental contribuem para a repetência e evasão escolar. Números são alarmantes na rede pública
“A educação é a base da sociedade.” Para se tornar concreta, a afirmação, propalada já diversas vezes por governantes, intelectuais e formadores de opinião, passa também por uma bem-sucedida atuação oftalmológica. Sabe por quê? Pois distúrbios oculares não identificados e tratados em crianças da educação básica da rede pública podem acarretar uma série de prejuízos. Entre eles: queda de rendimento e dificuldade no aprendizado do aluno, piora na socialização, no desenvolvimento psicomotor e na qualidade de vida, além de aumento dos índices de repetência e até evasão escolar.
O programa de alfabetização solidária apoiado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) concluiu, por exemplo, que a maior causa de abandono escolar é em razão dos problemas de visão, correspondentes a aproximadamente 23% dos casos. Tal cenário no país é mais amplo e complexo do que se imagina, com dados até certo ponto preocupantes.
Segundo estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), 25% dos escolares do ensino fundamental podem apresentar alguma perturbação oftalmológica, ao passo que 10% dessa faixa etária estudantil pode necessitar de óculos. O Ministério da Saúde, por sua vez, aponta que 15% das crianças da 1ª à 9ª séries de escolas municipais e estaduais precisarão de consultas oftalmológicas. Dessas, 15% demandarão óculos. Para se ter ideia da dimensão do problema, há no Brasil 24,2 milhões de estudantes matriculados no ensino fundamental da rede pública, de acordo com o Censo Escolar 2013.
Os erros de refração (miopia, astigmatismo e hipermetropia) não corrigidos são a principal causa de deficiência visual em crianças escolares, não só no Brasil, como também na América Latina e no resto do mundo. As falhas refrativas não solucionadas antecipadamente podem desencadear ambliopia, ou o chamado “olho preguiçoso”, que é a maior causa de cegueira monocular infantil e atinge 4% das crianças brasileiras.
Na avaliação do Presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e também Doutor em Oftalmologia e Professor Livre-Docente da Universidade de São Paulo (USP), Milton Ruiz Alves, mais que os números, alarmante é a dificuldade de se chegar às crianças e rastrear aquelas com problema visual. “Isto é algo difícil em vários países e também no Brasil. Os dados alarmantes são mundiais. Estima-se que 10% das crianças poderiam ter o aproveitamento escolar melhorado com a correção de um erro de refração”, afirma.
Outros distúrbios comuns nos educandos, associados a 1% e 2% das ocorrências de baixa de visão, são catarata, estrabismo, glaucoma congênito, toxoplasmose ocular, retinopatia e outras alterações com riscos de cegueira. Na infância, o exame oftalmológico é essencial porque o olho está em desenvolvimento até os sete anos. Essa idade, inclusive, compõe o público-alvo da maioria das campanhas e ações públicas do gênero existentes. O primeiro exame ocular é atualmente feito aos seis anos, no início do primeiro ano escolar. “Mas a maior prevalência de problemas oculares de erros de refração está em crianças de 10 a 15 anos. Por isso, é preciso garantir que o escolar seja avaliado todo ano”, alerta a Professora Doutora e chefe do Núcleo de Oftalmopediatria da Unifesp, Célia Nakanami.